O Sagrado Feminino
Série em andamento, que homenageia a mulher em todas suas formas e significados.
É a busca do feminino em cada ser, a busca do sensível dentro de cada um.
O corpo como objeto plástico
(Texto sobre a Exposição no Mercearia São Roque em em 2009)
O grande enigma da arte está em notar a capacidade técnica de um criador perante aquilo que ele se propõe a fazer. Visualizar a obra de Canato proporciona exatamente essa sensação. Está ali um pintor ciente de seu ofício, que trabalha o corpo humano não só como um ser físico, mas, acima de tudo, como objeto plástico.
Os nus que coloca em suas telas, revelam o poder de feitura na tela. Cada obra está marcada por um processo mental que ultrapassa a sensualidade ou a sexualidade das imagens.
O que se vê é um jogo de cores e de planos, em que a pintura nos fundos é feita de modo a não perder o foco daquilo que domina a centralidade visual: a mágica da anatomia, com suas infinitas possibilidades de expressão e de comunicação, numa espécie de teatro feito com pintura.
As figuras de Canato estão justamente no tênue limite entre a prática cotidiana do fazer com perícia e a ascensão de sentimentos que cada imagem desperta. Saber utilizar jogos de luz é um desafio que precisa ser gradativamente dominado.
Técnica, percepção da realidade aparente, consciência de que a pintura expressa uma visão de mundo, prática incessante e intensa disciplina são atributos presentes em Canato na sua atitude de mesclar a habilidade inata com o conhecimento adquirido na prática pictórica.
O treinamento do olhar e a aprendizagem contínua geram um conjunto marcado pela habilidade desenvolvida ao longo dos anos no lidar com linhas, planos, massas, espaço, movimento e cor, num exercício que leva a uma maior capacidade de questionar o que se vê.
Nascido em São Paulo, em 1965, formado em Artes Plásticas e Comunicação Visual pela Universidade Mackenzie, Canato, que frequentou o atelier de João Rossi desenvolvendo pesquisas no âmbito da gravura e da aquarela, recebeu, em 2001, a Grande Medalha de Ouro no 52° Salão Paulista de Belas Artes, justamente pela apresentação de uma linha visual que toma o corpo como assunto para discutir o fazer da pintura.
Seu objetivo é encontrar técnicas e poéticas que expressem a devoção ao corpo como uma materialidade a ser desvendada. O ato de construir as imagens na tela gera um questionamento sobre o próprio poder da arte de representar não só o corpo, mas qualquer imagem, emoção ou sentimento.
Canato vê o corpo como ponto de partida de uma jornada que tem como chegada a sensibilidade. Ele nos transporta para uma realidade onde a pintura reina soberana em seu poder de dar a cada instante um valor único, visceral e pleno da sinceridade plástica que soma o talento à visão poética do mundo.
Oscar D’Ambrosio
jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de
Artes da Unesp, integra a Associação Internacional
de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil).